005 - PEÇAS E ARTIGOS HOSPITALARES NA LAVANDERIA - PROSA COM OS MESTRES ROBERTO FARIAS E MARCELO BOEGER - Lavando roupa suja
Publicado em 25-05-2021
Boeger: Vamos lavar um pouco mais de roupa suja? (risos)
Roberto, acho incrível a quantidade de artigos, peças e objetos que chegam, por engano, junto do enxoval a ser processado, nas lavanderias hospitalares. Este é um fator que causa transtornos tanto para o hospital como para a lavanderia. Sinto as vezes, que as peças são simplesmente devolvidas dentro da rotina, sem seu devido registro ou notificação. Ou seja, uma oportunidade perdida para ajustar um processo falho na coleta ou nas áreas geradoras.
Roberto: Exatamente, a maioria não registra nem o fato das peças e objetos chegarem com a roupa e tampouco formalizam a entrega. O registro pode contribuir para que a gestão do hospital faça uma revisão dos processos antes, durante e após os procedimentos realizados.
Boeger: Estes números, em alguns hospitais e lavanderias, são assustadoramente altos.
Você já teve a curiosidade de mensurar? Me recordo de uma situação emblemática que ocorreu há alguns anos, em que uma brilhante gestora operacional de uma lavanderia própria em um grande hospital de São Paulo. Ela represou propositalmente os instrumentais cirúrgicos que chegavam até a sua lavanderia e após um período de aproximadamente 10 dias, convidou os gestores do centro cirúrgico a virem para a lavanderia retirar os mesmos e observar a enorme quantidade de artigos, com o objetivo de sensibilizar as equipes. As peças tiveram que praticamente ameaçar o bom planejamento e a produção cirúrgica para mostrar a criticidade existente para o início de uma conscientização nas áreas geradoras. So então ocorreu mudanças.
Roberto: O foco é o controle. Registrar a ocorrência da chegada e a do envio por diversos motivos: minimizar o risco e controlar a evasão destes artigos, objetos e peças. Como é o controle de entradas e saídas dessas peças no CME? O impacto financeiro do hospital pode ser grande pois além da evasão a responsabilidade pelos acidentes com os operadores da rota suja no hospital e na lavanderia. O risco está na coleta no expurgo, na arrumação nos carros de transporte e na lavanderia durante o recebimento, pesagem e classificação.
Boeger: Além dos instrumentais, alianças dentro de bolsos, carteiras (às vezes, mesmo com dinheiro e cartões), dentaduras, próteses, controles remotos, carregadores de celular entre tantas outras, né?
Temos que entender que faz parte da natureza da operação. Mas creio que necessita de melhores controles e processos dentro das áreas que possam evitar que ocorra nesta quantidade absurda. Às vezes a lavanderia tem que parar um processo para fazer uma busca deste tipo. Fora as consequências nos equipamentos, né?
Roberto: Você tocou num assunto importante. Algumas lavanderias não registram e não notificam por achar que pode provocar constrangimentos aos clientes. Porém quando se supõe que objetos (relógios, cartões, carteiras, etc.) foram deixados /esquecidos nos uniformes ou noutro enxoval, alguns hospitais exigem que estes objetos sejam encontrados imediatamente. É constrangedor para os colaboradores as suspeitas quando estes objetos não são encontrados na lavanderia.
É parte da operação sem dúvidas, porém, formalmente como não há registros para que se possa avaliar o impacto, não se pode investir na solução destas causas. Quanto aos equipamentos, podem provocar danos na estrutura deles comprometendo a vida útil deles e do próprio enxoval.
Boeger: E o que falar sobre peças anatômicas e até mesmo como um feto, levados embrulhados em campos ou lençóis?
Infelizmente já presenciamos fatos como esse não uma única vez. Mas, quando ocorre, deveria ser uma ótima oportunidade em revisitar os processos do hospital. Existem alguns processos que podem ser revistos, na forma de coletar as roupas, que ao mudar a forma com que as roupas são dispostas para a coleta, poderiam evitar enganos deste tipo.
Conheço lavanderias que chegaram a adotar até detector de metal para “escanear” o hamper na chegada na área suja. Apesar de conseguir detectar parte dos problemas, não resolve na totalidade. Além disso, atuar na causa se mostra sempre mais efetivo que atuar nos efeitos. Qual a sua visão sobre isso?
Roberto: A roupa hospitalar é retirada dos leitos de forma indevida pela urgência da troca ou giro de leito o que permite a mistura de roupas sujas (excrementos visíveis) com limpa (excrementos não visíveis), diferentes tipos de fibras (felpas com planos, campos com uniformes) promovendo a desorganização na classificação já na origem. Este modelo atual de retirada da roupa dos leitos já contribui para gerar dificuldade para visualizar objetos ainda no hospital. As vezes não é a retirada da roupa de forma “apressada” do leito que vai contribuir para reduzir o tempo no giro do leito. A lavanderia pode agir como um filtro desses artigos, mas não pode ser o fiel depositário. Um estudo sobre este tema deve ser aprofundado.
Mais uma boa prosa enquanto lavamos a roupa suja, kkkkkk... (risos).