VISÃO SISTÊMICA NA LAVANDERIA - GRÁFICO DE FARIAS
Publicado em 08-09-2020 por Roberto Maia Farias

Lavar roupas, até há bem pouco tempo, lembrava um rio ou um lago, a lavadeira, a pedra, o sabão em barra e o bastão, uma operação rudimentar, sem quase nenhum reconhecimento, porém necessária. Lavar roupas evoluiu de forma lenta e regional, pois ainda encontra-se, em algumas cidades ou classes sociais, a lavadeira à beira dos rios ou lagos, embora a tecnologia empregada aos novos detergentes tenha conduzido esse processo a melhores resultados.
O processo de lavagem de roupas “parece” ser independente da consequência da lavagem, ou seja, existe o cuidado com a apresentação da roupa, a durabilidade (vida útil), a qualidade, o custo de lavagem, etc.; porém, ao mesmo tempo, vê-se que que o desperdício dos principais recursos (água, produto, energia, tempo, etc.) não são consideráveis; até parece que os resultados são distintos e independentes dos procedimentos. Lavar roupas é um processo elementar e interdependente do resultado da roupa limpa, não é somente uma operação simples e convencional.
Lavar roupas era um processo manual realizado por lavadeiras. Com o surgimento das máquinas de lavar, a lavagem de roupas passou a ser considerada mecânica. Porém, foi necessário um novo conceito de produtos, pois, até então, os existentes no mercado não eram específicos para a lavagem mecânica. Isso ocasionou diversos problemas, tais como: excesso de espuma, limpeza ineficaz, falta de conhecimento dos consumidores sobre a própria máquina; formas e tempo de lavagem, etc., que quase transformaram essas máquinas em objetos decorativos e inúteis.
Os fabricantes de sabões e detergentes para lavagem desenvolveram e incrementaram novos aditivos para essa utilização mecânica. A finalidade era obter melhores resultados, pois o consumidor, às vezes, não entendia se era a máquina ou o produto ou a própria lavadeira o culpado por uma lavagem sem sucesso. Não existia uma sincronia perfeita entre os fabricantes de sabões e os das máquinas. Atualmente, esses fabricantes buscam integração, com o objetivo de alcançar melhores resultados para o consumidor.
No caso de lavagens industriais em hotéis, hospitais, o problema era semelhante. Alguns hospitais faziam uma solução[1] de sabão em barra e água, sendo a roupa “fervida” nesse tanque por algumas horas para, posteriormente, ser enxaguada e colocada para uso. Apesar de toda tecnologia alcançada com máquinas, produtos, tecidos, processos, etc., ainda encontram-se lavanderias que trabalham com processos extremamente rudimentares. Após a evolução das máquinas de lavar, a lavagem de roupas passou a ser definida como um conjunto de quatro fatores necessários e dependentes, que resultavam numa lavagem harmoniosa, eficiente e de baixo custo.
Segundo Puchta (apud Jakobi; Löhr, 1987), os fatores envolvidos são representados por um gráfico de pizza denominados de Círculo de Sinner, e cada fator tem representatividade de 25% sobre o resultado da roupa. O gráfico de Sinner é tipicamente sinergético e age no ambiente interno da lavanderia; porém, a lavagem de roupas sofre interferências externas e estas são relevantes para decidir quais fatores utilizar.
2.1 Principais fatores da lavagem – Círculo de Sinner
O gráfico foi denominado de Círculo de Sinner, em homenagem ao Químico Herbert Sinner, da Henkel na Alemanha. Os fatores são: ação química, física, tempo e temperatura. Para o Dr. Herbert Sinner (1959), o objetivo era mostrar que a redução de um fator pode ser compensada por qualquer um dos outros três fatores, por exemplo: baixa ação mecânica pode ser compensada com maior tempo, produto ou temperatura.
A tabela a seguir mostra que, de acordo com as etapas, os fatores podem ser iguais ou maiores que 25%, ou iguais ou menores que 25%.
Tabela 1 Relação relativa dos fatores de Sinner nas etapas de lavagem
Fator SinnerEtapa |
Círculo de Sinner |
|||
Tempo |
Temperatura |
Química |
Mecânica |
|
Enxague |
> 25% |
< 25% |
< 25% |
< 25% |
Pré-lavagem |
< 25% |
< 25% |
> 25% |
> 25% |
Lavagem |
< 25% |
< 25% a > 25% |
> 25% |
> 25% |
Alvejamento |
< 25% |
< 25% a > 25% |
> 25% |
> 25% |
Acidulação |
< 25% |
< 25% |
> 25% |
> 25% |
Amaciamento |
< 25% |
< 25% |
> 25% |
> 25% |
Fonte: Elaborado pelo Autor
Segundo Jakobi e Lohr (1987), muito embora a água não seja mencionada como parte importante do Círculo de Sinner, na Europa já se falava sobre as interferências provocadas na lavagem por suas impurezas. A água tinha maior importância com relação à taxa de banho (quantidade necessária de água por quilo de roupa), do que propriamente com relação às interferências provocadas. Não era dada como parte dos fatores essenciais à lavagem. Com a inclusão de água[2] a nova representação é definida pelos fatores:
- Ação química – Função do efeito dos produtos na lavagem;
- Ação mecânica – Função batida da roupa na máquina;
- Ação temperatura – Função do calor na eficiência dos produtos;
- Ação tempo – Função da atuação e remoção de sujidades;
- Taxa de água – Função da ação água versus roupa na máquina.
Porém, com o passar dos anos, verificou-se que, para alcançar o sucesso numa operação de lavagem, era necessária a compreensão de outros fatores também importantes, tais como: a evolução das fibras têxteis; a modernização e automação das máquinas de lavar; os efeitos ambientais dos produtos utilizados e a compreensão ecológica; os efeitos nocivos à saúde e a prática de segurança no trabalho; o fator custo de lavagem; o custo de reposição de roupas; a durabilidade programada da roupa (maior vida útil dos tecidos); a responsabilidade com o cliente; a conservação de energia; o controle e uso sustentável dos recursos hídricos.
Todos esses fatores tornam o processamento da lavagem de roupa complexo e de grande responsabilidade. A indústria de detergentes, além dos fatores ambientais, teve que buscar tecnologia para acompanhar essa evolução. Essa busca de tecnologia requer investimentos vultosos em equipamentos, métodos e processos, sempre com o objetivo de melhor atender às expectativas da evolução na lavagem de roupas.
O fator Qualidade versus Custo é preponderante como resultado, porém esses resultados somente serão satisfatórios se a lavanderia rejuvenescer na sua visão de negócio. O foco não é lavar roupas, mas atender aos clientes com conforto e segurança sanitária. Esses objetivos serão atendidos com uma visão sistêmica do ambiente da lavanderia.
2.2 A visão sistêmica da lavanderia.
Ao avaliar e comparar os fatores sinergéticos do Círculo de Sinner na lavagem de roupa, e se a sua relação, com o ambiente gerador da roupa a ser lavada pode-se ampliar o conceito para a visão sistêmica. As teorias organizacionais de contingências e sistêmicas serão úteis e servirão de base estrutural nessa avaliação.
Analisada a linha do tempo, desde a criação e implantação do Círculo de Sinner em 1959, a distância cronológica e, principalmente, a tecnológica, são aspectos suficientes para uma proposta de uma revisão desses fatores, especialmente se amparados pelos pilares da sustentabilidade, visão sistêmica, inovação e da relação ambiental (micro e macro) na era pós-globalização. A lavanderia não pode mais ser considerada como uma evolução da lavadeira à beira de um riacho.
A ruptura do modelo de visão cartesiana e mecanicista do processo Sinner, para uma nova arquitetura gráfica, permite contemplar estratégias ambientais e variáveis, que são consideradas impactantes no processo de lavagem de roupa. As variáveis macroambientais apontam para sujidades, tecidos, água entre outras.
A proposta tem como base uma investigação estruturada e bibliográfica, cuja finalidade é colocar o pesquisador em contato com o que já se produziu a respeito deste tema de pesquisa, (PÁDUA, 2004). São consideradas referências, no estudo de lavanderias, os autores Mezzomo (1984,1992), Torres e Lisboa (1999), Farias (2006, 2011), Castelli (2001), Davidsonh e Milwidsky (1987), Goodwin (1994), Jakobi, Lohr, (1987), Londoño (2000), Longman, G. F. (1975), Smulders, Rybinski et al (2002, 2007) e artigos sobre, principalmente, segurança ao trabalhador em lavanderia.
Embora limitada a literatura existente sobre lavanderia, o Círculo de Sinner ainda é considerado como ferramenta definitiva e imutável do processo de lavagem. Essa consideração ocorre muito mais pela “ausência” da lógica da visão sistêmica, no ambiente da lavanderia.
Um ambiente, qualquer que seja, não pode ser considerado como um sistema fechado. A visão sistêmica evolui potencialmente para um ambiente holístico, onde o todo é composto por partes e as partes devem ser avaliadas com o foco no todo. O estudo isolado da parte é reduzir o todo. A inovação contribui com a afirmativa de que os condicionantes externos interferem e impactam nos sistemas de lavagem de roupa, modificando o ambiente externo que modifica o ambiente na lavanderia.
Mas o que você faz quando o ambiente externo muda? “No longo prazo, qualquer organização que não cultive a mentalidade inovadora e continue a fazer o que lhe garantiu sucesso no passado estará fadada ao fracasso” (DRUCKER, 2003). Todo ambiente externo muda. A organização deve assumir que as mudanças revolucionárias são inevitáveis. A inovação não garantirá o sucesso, porém, poderá evitar que a organização fique vulnerável ao fracasso (COHEN, 2008).
Inovação: novidade ou renovação? É uma ideia, método ou objeto que é criado e que pouco se parece com padrões anteriores. É a criação de novos mercados, agrega valores, atende consumidores em suas diversas necessidades, os desejos e as expectativas. (TIGRE, 2006).
A palavra inovação foi introduzida por Schumpeter (1939). Em Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942) ele descreve o processo de inovação como “destruição criadora”. A inovação revolucionária atende o público que ainda não foi “identificado” pela concorrência, como “consumidor”. Esses consumidores não estão somente na base simples da pirâmide, conforme citado por Prahalad e Hamel (2005), mas nas interseções de cada fase da pirâmide social. A cada evolução social novos conceitos e desejos são aflorados como elementos de satisfação e status. As empresas que criam o futuro fazem mais do que satisfazer o cliente, elas o surpreendem constantemente.
A inovação gera riqueza e cria a diferença entre as organizações que buscam a eternização e as que se comportam como sobreviventes. A criação de algo novo requer visão sistêmica e pensamento sinergético do observador. Não se cria o novo limitado em fronteiras de conhecimento. A interseção do conhecimento produz nova ciência e novas formas de enxergar fatos e coisas. Desconhecer os limites existentes é reconhecer possibilidades do novo e impactar no novo ambiente (do micro ao macro) organizacional.
Bungüe (apud Günter, 2002) define que um ambiente é tudo aquilo que importa, mas não tem controle. A crença do século passado adotava a mecânica clássica como modelo de pensamento científico. Isso equivale a pensar nas coisas como mecânicas e fechadas. A crença atual adota o organismo vivo como modelo ou sistema aberto.
Comparando a lavanderia como ambiente, os fatores de Sinner representam o microambiente (fatores que podem ser controlados), e a roupa representa o macroambiente (fatores que não podem ser controlados). As mudanças ocorrem, o ambiente interno percebe, reage e adota suas adequações. A lavanderia é continuamente impactada pela inovação, em função de políticas públicas, leis e regulamentos (sanitária, trabalhista e ambiental) e variáveis da indústria têxtil, moda, de alimentos, da gastronomia, doméstica e de medicamentos. (FARIAS, 2011).
Com essa visão, o autor considera que a primeira grande mudança (ruptura social e revolução na lavanderia) surgiu com a invenção das lavadoras de roupa automáticas (1950) e, com ela, uma nova teoria para higiene e limpeza da roupa: a identificação sinergética dos fatores tempo, temperatura, ação química e ação mecânica ou os quatro fatores de Sinner.
Ao demonstrar que os fatores de Sinner, embora sinergéticos, permaneceram estáticos, enquanto que os stalkeholders da lavanderia evoluem em todas as dimensões, propor um novo gráfico, que possa atender a teoria sistêmica, além da etapa de lavagem de roupa, e que seja dinâmico contribuindo para o entendimento das contingências dos fatores externos e internos, que interferem na lavagem de roupas. Isso é mais do que uma visão, é uma necessidade de gestão.
2.3 Visão reducionista e sistêmica na organização
Segundo Morin (apud Günter, 2002) a ciência não está unicamente na capitalização das verdades adquiridas, na verificação das teorias conhecidas, mas no caráter aberto da aventura, que permite a contestação das suas próprias estruturas de pensamento. É um momento crítico em que o próprio conceito de ciência está se modificando.
Para Capra (2000) e Pereira (2003), a atitude reducionista encontra-se vinculada à cultura e pode ser identificada como sendo o próprio método científico. No método em que se procura reduzir a complexidade do objeto a ser investigado em partes, formar-se-iam todos menores e não partes de um todo maior. A fragmentação foi estendida às ciências, fortalecendo o paradigma cartesiano-mecanicista que conduz a uma excessiva ênfase da fragmentação do modo de pensar e agir, tratando as disciplinas do conhecimento como compartimentos estanques e separados.
Afirmam Alves et e al (2005), Maciel e Silva (2008), que a fragmentação leva a uma incoerência considerável entre a retórica e a realidade de suas práticas. A ciência foi formando especialistas no assunto, mas que conhecem o mínimo das outras áreas de conhecimento afim. Tais especializações não produziram uma sinfonia de saberes, os físicos não entendem os sociólogos, que não entendem os biólogos, que por sua vez não entendem os economistas, e assim por diante.
Para Capra (2002), a visão newtoniana do mundo de causa e efeito está intimamente associada ao determinismo existente, porquanto, para cada fenômeno, existiria uma causa e um efeito determinados de objetividade, e o futuro poderia ser previsto com certeza. Para Toffler (1994), Pereira (2003) e Prahalad e Hamel (2005), a perda da objetividade permitiu a inclusão de conceitos ligados à subjetividade, à interioridade e à espiritualidade no ambiente de trabalho, como forma de capacitar os indivíduos a responderem com rapidez e dinamismo as necessidades impostas por um mundo repleto de incertezas, constantemente submetido a mudanças.
2.3.1 Paradigma holístico pós moderno
Para Egri e Pinfield (1998), as investigações a fim de entender os problemas oriundos do modelo de mundialização vigente apontam para questões que sobressaem-se contraditoriamente: a desregulação econômica mundial e a fragilidade do sistema financeiro de países emergentes. O crescimento explosivo da população aumenta os níveis de desperdício e de poluição, ao passo que os recursos naturais dão mostras de esgotamento. Para Capra (2000), esses problemas são problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes. Não podem ser entendidos no âmbito da metodologia fragmentada, que é característica das disciplinas acadêmicas e dos organismos governamentais.
A origem do holismo filosófico remonta à época de Heráclito (535-475 a.C.). Em 1926, Smuts desenvolveu o conceito de holismo organicista, como uma síntese ou uma união de partes que é tão compacta e intensa, que é mais do que o total de suas partes, de forma que o todo e as partes, consequentemente, se influenciam e se determinam reciprocamente.
As descobertas científicas, do início do século XX, impuseram o fim definitivo do sonho de explicar a totalidade por meio de leis fundamentais invariantes e eternas. (NAVIEIRA, 1998). Para Vergara e Branco (2001); Egri e Pinfield (1998), as organizações que aplicam o método holístico demonstram melhor entendimento de seus problemas e melhor aproveitamento de oportunidades.
2.3.2 Teoria geral dos sistemas
A Teoria Geral dos Sistemas (TGS) apresentada por Bertalanffy, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, objetiva identificar os sistemas orgânicos e seus relacionamentos. Para Alves (2005), a TGS é apresentada em dois modelos de raciocínio: o reducionista (identifica as partes do sistema) e o sistêmico (compõe os subsistemas inter-relacionados). É o oposto do reducionismo.
Para Bunge (apud Günter 2002, p 27), ao elaborar a abordagem existencial dos sistemas sem, considerar os aspectos teológicos, percebe-se que Sistema é uma tripla ordenada: “a coisa (o sistema), a outra coisa (o ambiente) é um conjunto de relações entre a coisa e a outra coisa”.
Esta concepção elimina a possibilidade de um sistema existir sem “ambiente”, ou seja, algo não existe se não houver onde ter, ou que possa conter, enfim relacionar a coisa. A lavanderia é um sistema aberto, interage com os serviços de hospedagem (hoteleira / hospitalar), a ciência, com as pessoas e o modo de vida dessas pessoas.
2.4 Evolução na lavanderia industrial
Lavar roupas, até bem pouco tempo, lembrava um rio ou um lago, a lavadeira, a pedra, o sabão em barra e o bastão. (FARIAS, 2006). A lavagem “empírica” da roupa recebeu uma formatação científica denominada Círculo de Sinner inovando o conceito de lavagem de roupas. Pode ser considerada como a primeira revolução na arte de lavar roupas.
A tecnologia dos têxteis contribui para melhoria dos métodos de lavar, de produtos químicos, assim como artigos de higiene, cosméticos, medicamentos, alimentos, novos corantes, poeiras atmosféricas etc. geram novas sujidades e manchas nas roupas. A lavanderia é uma atividade mutante e portanto sujeita a alterações provocadas pelas inovações advindas do ambiente tecnológico e comportamental.
A RDC/Anvisa 50, de 21/02/2002, RDC 06, de 31/01/2012 (ANVISA 2007), a segurança ocupacional (NR32) e a ambiental induzem a profissionalização da lavanderia definindo métodos, processos e produtos para lavagem da roupa hospitalar. O fundamento está na separação das áreas de processamento da roupa suja e da roupa limpa. Esse conjunto de inovações legais, técnicas e sociais induziu a profissionalização dos serviços de lavagem de roupa, quer por terceirização que por não terceirização. Lavar roupas é uma atividade que impacta e é impactada pelo ambiente social.
A tecnologia de produtos já permite a redução do uso de produtos químicos para produtos biológicos. A biolavagem reduz tempo, ação mecânica e temperatura, influenciando nos fatores sinergéticos de Sinner. Portanto, é possível demonstrar que os fatores podem ser reduzidos, excluídos ou aumentados mediante a etapa do processo de lavagem.
2.5 Inovação no gráfico de fatores da lavagem
A visão da lavanderia também deve sair do específico (etapa da lavagem) para o geral (conforto e segurança sanitária da roupa). Os fatores tais como: tipo de fibras, sujidades, superfícies/substratos, cores, segurança ocupacional e sanitária, podem ser tão importantes para o sucesso da lavagem do que somente os mencionados no Círculo de Sinner.
A Associação Holandesa de Fabricantes de Sabão (AHF) mostra limitações no Círculo de Sinner; por exemplo, em temperaturas mais altas não consegue limpar objetos com risco de encolhimento (camisolas, lã) e pode modificar a estrutura da mancha de sangue, dificultando sua remoção da roupa. As fábricas de químicos Chemka afirma que não se deve focar apenas na estrutura estática de Sinner. A limpeza de tanques, em industrias de alimentos, consome alta quantidade de recursos tais como: tempo, produtos químicos, água, luz, mão de obra e tempo. A limpeza Clean In Place (CIP) não utiliza a ação mecânica como o seu principal componente. Os fatores químicos, tempo e temperatura são os mais utilizados.
Para Smuldier et al (2007), os componentes importantes da lavagem são sujidades, substrato (fibras têxteis) e a água. As sujidades podem sofrer interações com outras sujidades e podem agir diferentemente nos vários tipos de fibras. Em muitos casos, o tempo e a temperatura podem afetar a ação química, o tempo pode afetar a ação mecânica e a resistência dos tecidos. A configuração de acordo com os tipos de tecidos, sujidades, cores, fibras, garante a eficiência da limpeza e a rentabilidade do processo.
2.6 Inovação na lavagem – Fatores de Mezzomo
No Brasil, Mezzomo (1992) afirma que, na lavagem de roupa são os fios têxteis, os tecidos, as cores, a água, a sujeira, a capacitação e treinamento dos operadores que fazem a diferença na qualidade da lavagem. De acordo com os fatores de Mezzomo (1992), o Círculo de Sinner está contido nos fatores que resultam na qualidade da lavagem. Para obter uma boa lavagem, convém examinar a sujeira, os tecidos, a água, o vapor, a ação mecânica e os sabões e detergentes. As fibras podem reduzir custos do processo de lavagem. Outros fatores, como a capacitação profissional são importantes, pois o conhecimento operacional pode evitar danos nos tecidos, acidentes e desperdício de materiais.
Vieira e Cabral, na apostila sobre higiene e limpeza de frigoríficos (2008), elaborada pela Diversey-Lever, afirmam que, além da detergência, o que compromete o resultado final é a falta de conhecimento dos usuários e de alguns fornecedores. Não se pode definir um programa de higiene desconhecendo alguns fatores tais como: a água, métodos de limpeza, tipos de sujidades, métodos de controle desempenho e microbiológico, procedimentos operacionais padronizados (POP), segurança operacional e capacitação profissional. Portanto, a pesquisa bibliográfica já aponta para outros fatores, além dos de Sinner, que contribuem para o sucesso da lavagem de roupa.
2.7 Inovação na lavagem: fatores de Farias
Ampliando os fatores apontados por Sinner, Mezzomo, Vieira e Cabral, é possível apresentar uma nova arquitetura gráfica para os fatores da lavagem, conforme mostra o quadro a seguir:
Quadro 11 Fatores de comparativos Sinner, (Mezzomo, Vieira e Cabral, Farias)
Fatores de lavagem |
|||
Sinner |
Mezzomo |
Vieira e Cabral |
Farias |
Ação química |
Ação química |
Ação química |
Ação química |
Ação mecânica |
Ação mecânica |
Ação mecânica |
Ação mecânica |
Ação tempo |
Ação tempo |
Método de limpeza, conceitos e POP |
Ação tempo |
Ação temperatura |
Ação temperatura |
Ação temperatura |
|
Fios (fibras têxteis) |
Substratos (superfícies) |
Fios (fibras têxteis) |
|
Tecidos |
Tecidos |
||
Cores |
Cores |
||
Sujidades |
Sujidades |
Sujidades |
|
Água |
Água |
Água |
|
Treinamento |
Capacitação (treinamentos) |
Treinamento |
|
Segurança |
|||
Logística |
|||
Ética |
|||
Clientes |
|||
Fornecedores |
Fonte: Elaborado pelo Autor
O Círculo de Farias é uma interação cooperativa de fatores que, somado aos já compreendidos no círculo de Sinner, Mezzomo e Vieira e Cabral, passam a representar uma nova dimensão das influências do processo de lavagem de roupa. Essa nova interação de processos foi denominada de Gráfico de Farias.
Lavar roupas deixou de ser uma operação simples, convencional, de baixa ou nenhuma importância, tida muitas vezes como despesa, e passou a ser uma operação complexa que envolve benefícios tais como: lucratividade, higiene, tempo de vida útil elevado (da roupa), menor agressão às fibras, menor índice de reposição por desgastes, satisfação (roupas sempre novas, conservadas e limpas), eficiência (baixa taxa de retorno ou relavagem), menor desgaste dos equipamentos, menor agressão ao meio ambiente, menores riscos aos usuários, menores riscos aos funcionários da lavanderia, menor índice de infecções por produtos agressivos, menor custo por quilo de roupa lavada, redução do tempo ou processo de lavagem, redução do custo de serviços (energia, água, vapor, etc.).
2.8 Fatores de Farias / círculo Skill
A pesquisa bibliográfica procurou identificar os fatores relevantes para o processo de lavagem e formatar um quadro comparativo com os formulados pelo Dr. Herbert Sinner (Círculo de Sinner) e comparados com os autores Mezzomo (1992) Smuldier et al (2007), Vieira e Cabral, etc., que apresentaram outros fatores considerados como relevantes na lavagem de roupa. Conforme Smulders (2007), a água, os tecidos e as sujidades são pontos fundamentais de interferências no processo de lavagem. A partir desta identificação, foi construído um quadro sobre a relevância das respostas do grupo pesquisado, em comparação aos fatores de Sinner, conforme mostra o quadro a seguir:
Quadro 12 Relação entre fatores de Sinner e os de Farias
Sinner |
Pesquisa |
Ação química |
Ação química |
Ação mecânica |
Ação mecânica |
Ação tempo |
Ação tempo |
Ação temperatura |
Ação temperatura |
Água |
|
Tecidos/fibras/cores |
|
Sujidades |
|
Treinamento |
|
Logística |
|
Fornecedores |
|
Cliente |
Fonte: Elaborado pelo autor.
A lavanderia é um sistema complexo que, inevitavelmente, sofre forte influência de fatores internos e externos. Portanto, deve ser avaliada com visão sistêmica, cujas variações, micro e macroambientais, podem interferir no seu planejamento e nos resultados. É parte integrante de um sistema maior definido como unidade de hospedagem (hoteleira ou hospitalar), que também sofre influência do meio interno e externo.
A lavagem de roupa é constituída de etapas denominadas enxagues iniciais e intermediários, umectação, pré-lavagem, lavagem, alvejamento, acidulação, amaciamento e engomagem. Na lavanderia hospitalar, esse ciclo de etapas é denominado “processo de lavagem”. Esse ciclo é um sistema.
A linha de raciocínio do autor está na relação de que os fatores (água, sujidades, tecidos, fibras têxteis, cores), apresentados como resultados da pesquisa, impactam na definição dos fatores do Círculo de Sinner, que devem ser controlados e selecionados no processo de lavagem de roupas. Não é o Círculo de Sinner que impacta no ambiente (macro), mas o ambiente que impacta no círculo de Sinner (microambiente).
Diante desses resultados, ficou demonstrado que a teoria proposta como gráfico de Farias deve ser considerada atualizada e favorável na avaliação dos condicionantes externos, que interferem e impactam nos fatores da lavagem de roupa do sistema de hospedagem, uma vez que contempla todo ciclo produtivo do processamento da roupa, com conforto e segurança sanitária.
2.9 Tipos de lavanderias
DOMICILIARES: São parte as lavadeiras autônomas; lavadeiras comunitárias e residenciais.
COMERCIAIS: são parte as domésticas e self services.
INDUSTRIAIS: são parte as hospitalares, hoteleiras, moteleiras, de restaurantes, manutenção, pessoal e especialidades.
2.10 Tipos de Serviços
Os serviços prestados podem ser a desengomagem, lavagem com água, lavagem a seco, o amaciamento, a centrifugação, secagem, passadoria, remoção de manchas, o desencardimento da roupa, a desinfecção engomagem, o tingimento, a stonageme, entre outros.
[1] Consistia em cortar em pedaços o sabão em barra e adicionar água fervendo. Depois de dissolvido o sabão, a roupa era colocada nesse caldeirão para ser fervida por diversas horas. Entendia-se que esse processo limpava a roupa com maior resultado do que as máquinas de lavar.